Resenha sobre o filme Tango & Cash (1989)
Um clássico explosivo e uma ponte entre duas eras do cinema de ação.
Adicionado a 16 de agosto de 2025, por Facínora. | Acesse à descrição completaNeste post, temos uma resenha minha sobre Tango & Cash (Tango & Cash – Os Vingadores), um filme de ação policial com comédia americano de 1989 que acompanha uma dupla de policiais rivais extremamente durões — Ray Tango e Gabriel Cash — que são forçados a trabalhar juntos depois que uma camarilha de gangsters liderados por um gênio do crime os incrimina por assassinato.
O longa conta com ninguém menos que Sylvester Stallone, Kurt Russell, Jack Palance e Teri Hatcher em seu elenco e foi dirigido principalmente por Andrei Konchalovsky, com Albert Magnoli e Peter MacDonald assumindo os estágios finais das filmagens, com Stuart Baird supervisionando a pós-produção.
Lançado pela Warner Bros. nos Estados Unidos em 22 de dezembro de 1989, mesmo no mesmo dia de Always, Tango & Cash tornou-se um dos últimos filmes americanos da década de 1980, o que vai ser relevante para esta análise. A obra recebeu críticas mistas, mas foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 120 milhões com um orçamento de US$ 54 milhões.
Análise
O papo é o seguinte: como trata-se de um lançamento já antigo que todo mundo já está careca de assistir, vou tentar trazer a este texto um enfoque sobre como Tango & Cash é um filme essencialmente oitentista, mas, até por ter saído praticamente na virada da década, já adota sinais do que caracterizaria muito da cultura pop nos anos 1990, especialmente neste gênero. Claro, o longa é sensacional, com pancadaria, tiroteio, perseguições, tiradas engraçadas e elenco de qualidade. Aliás, além dos supracitados atores, marcam também presença o finado Robert Z’Dar, James Hong (“Four. It’ll be five, ten minutes.”) e o também finado e sempre com cara de poucos amigos Brion James. É o tipo do filme que nem precisaria de enredo, se tivesse só ter cenas de briga estilo Burt Spencer e Terence Hill sem maiores explicações ia continuar sendo bom.
Acontece que Tango & Cash parece dar um passo além de apenas trazer a ação over the top típica dos anos 80. O cenário é familiar: uma cidade grande com problemas típicos de cidade grande (algo visto também em Predator II, de 1990, diga-se de passagem), não em ilhas remotas guardadas exércitos particulares ou nas montanhas de uma Sibéria soviética. Os heróis são ainda muito fodões e bons de briga, mas ainda policiais comuns — nada de ninjas ou soldados de elite, apenas acima da média. Os vilões continuam cartunescos (com destaque para Yves Perret, vivido por Jack Palance), mas suas ambições são prosaicas: eliminar dois policiais competentes e incorruptos para expandir seu império do crime. Nenhum plano mirabolante de dominação mundial, sociedades esotéricas de psicopatia ou esforços em prol de uma mutação em massa. Essa preocupação em manter os pés no chão é, pra mim, uma das marcas dos anos 90.
O humor, típico neste subgênero buddy cop, não falta, mas, em vez de apenas piadas soltas ou situações cômicas, começa a se entrelaçar à narrativa e à construção dos personagens. Inclusive, o que faz papel dos one liners em Tango & Cash são em maioria tiradas irreverentes, mesmo em frente de situações extremamente complicadas e preocupantes, o que é sensacional. A única frase que lembro aqui é “Rambo, is a pussy” (dublada aqui como “Rambo é um idiota”, salvo engano), antes do Stallone dar um tiro no caminhão levando cocaína. Esta pegada onde os heróis não se impressionam com nada e tiram sarro até perante as piores dificuldades, o que flerta com a rebeldia (em algumas obras até com o niilismo) é também um traço muito presente nas produções dos anos 1990. Evidentemente, ainda estariam por vir muitas frases cinematográficas icônicas, como as de Terminator II, mas, além de, no caso, estas serem em maioria irreverentes também, talvez isto seja simplesmente ainda parte do rescaldo da década anterior.
Noto este encontro entre estes “estilos de época” inclusive na forma como os personagens são construídos. Os arquétipos ainda são oitentistas: tem os do bem, os do mal, os do bem são muito bons e os do mal são muito maus. Entretanto, já exibem nuances e motivações mais complexas, uma sofisticação trazida por aqueles tempos. Alguns podem interpretar inclusive que Tango, por ser mais certinho e brutamontes, simboliza a década de 80, contrastando com Cash, o tira maverick e impulsivo que ironiza toda e qualquer situação que seria mais a cara dos anos vindouros. Aliás, Kurt Russell já havia representado personagens marcantes com algumas características noventistas, como Jack Burton (Aventureiros do Bairro Proibido), Snake Plissken (Fuga de NY) e R.J. MacReady (The Thing). Contudo, embora essa leitura faça sentido, não sei se é a mais precisa, visto que Tango logo se mostra folgado, imprevisível e cheio da zueira também (lembra da frase do Rambo?), enquanto Cash demonstra lealdade e, por vezes, responsabilidade, o que o distancia do arquétipo de “rebelde boa pinta que vive sob suas próprias leis” (como diria Bart Simpson) que estava prestes a impregnar a cultura pop. Esta flexibilidade na caracterização dos protagonistas mostra que foram concebidos para ter mais nuances também.
Agora, onde podemos ver os anos 80 se manifestarem plenamente em toda a sua glória em Tango & Cash é certamente nas cenas de ação. O pau quebra em qualquer lugar e, muitas vezes, sem muita explicação. Em algumas cenas, temos um cara arrastando o rosto do outro numa grade, noutras vagabundos jogados pra serem eletrocutados em cabos de alta tensão. Não são essas coisas coreografadas demais e/ou cartunescas tipo John Wick e muito menos aquelas filmagens com tremedeira, que mudam de ângulo toda hora pra disfarçar que os atores não sabem lutar. Pelo contrário, são tomadas sensacionais, em sua maioria cruas, e só de lembrar dá vontade de assistir de novo (aliás, vou até meter na sequência aqui um vídeo nostálgico com momentos marcantes do longa). Além disto, há também a presença do veículo extraordinário — herança dos anos 70 que os 80 levaram ao limite — embora o que temos aqui não seja nenhum K.I.T.T.
Dito isto, dá também para identificar traços do que estava por vir até mesmo na ação bruta e sem remorso de Tango & Cash. A pancadaria é mais briga de rua do que artes marciais, embora apareçam uns tora tolho ali e acolá. Tendo em mente que estas ainda não eram tão difundidas como hoje em dia, dá pra dizer que este foco pode ter sido também fruto da supracitada preocupação com elementos familiares dos anos 90. Em suma, as explosões, perseguições e lutas mantém o exagero exuberante oitentista, mas já mostram tendências que iriam definir o cinema de ação do início dos anos 90. Posso dizer também que este ritmo mais ágil, humor integrado à narrativa e atenção maior à estética visual, mesmo em meio ao caos, acabou resultando em algo que na maior parte não envelheceu com aquele cheio de naftalina.
No fim das contas, esteja esta minha teoria certa ou não, Tango & Cash, independente do seu “estilo de época” ser dos anos 80 ou 90, não deixa de ser exatamente o tipo de filme que, como muitas obras daqueles tempos, dá para assistir mil vezes e continuar achando divertido. Trata-se de uma combinação de pancadaria sem frescura e ação explosiva com o tipo de irreverência e um toque de sofisticação que buscavam soprar um ar fresco à fórmula da década de 1980. Soma-se isso aos personagens carismáticos e temos algo que — seja um clássico oitentista ou um anteparo do que viria a ser o cinema de ação nos anos 90 — vale sempre a pena revisitar, nem que seja de vez em quando.
Trailer
Sinopse
Ray Tango (Sylvester Stallone) e Gabe Cash (Kurt Russell) são policiais rivais de Los Angeles com uma coisa em comum: cada um acha que é o melhor. Quando estão juntos, são como água e óleo. Mas, quando são incriminados por um crime, tornam-se como fósforo e querosene. Injustamente presos entre criminosos que eles mesmos colocaram atrás das grades, a dupla organiza uma fuga eletrizante da prisão repleta de armas e tiradas afiadas — e parte em seguida para caçar o misterioso chefão do crime (Jack Palance) que os armou. Tango & Cash estão determinados a limpar seus nomes. Junte-se a eles e sinta a adrenalina.
Ficha técnica
- Título original: Tango & Cash
- Título no Brasil: Tango & Cash – Os Vingadores (ou apenas Tango & Cash)
- Ano de lançamento: 1989
- Duração: 104 minutos
- Gênero: ação, policial, comédia
- Dirigido por: Andrei Konchalovsky, Albert Magnoli, Peter MacDonald
- Escrito por: Randy Feldman
- Produzido por: Jon Peters, Peter Guber
- Elenco principal: Sylvester Stallone, Kurt Russell, Jack Palance, Teri Hatcher, Brion James, James Hong, Robert Z’Dar
- Direção de fotografia: Donald E. Thorin
- Montagem: Stuart Baird, Hubert C. de la Bouillerie, Robert A. Ferretti
- Música: Harold Faltermeyer
- País: Estados Unidos
- Idioma: inglês
- Companhia de produção: The Guber-Peters Company
- Distribuição: Warner Bros.
- Orçamento: US$ 54 milhões
- Bilheteria: US$ 120,4 milhões
Ufa. Terminei.
Tinha o rascunho desta análise, mas acho que fiz alguma burrada e acabei perdendo. Entretanto, acho que deu para recuperar os pontos principais do que eu queria desenvolver sobre Tango & Cash, mas é você quem vai me dar a certeza de que valeu a pena ou não.
Deixe nos comentários o que achou do texto e sobre este grande clássico oitentista (ou noventista, sei lá), e envie para seus amigos que também gostam de uma boa pancadaria oitentista (ou noventista, sei lá).
Abraços!
Mais informações e análises de filmes
Visão geral
- Visualizações: 5
- Categoria(s): Análises
- Autor, desenvolvedor e/ou publisher: Bolonha Club
- Marcador(es): Cultura pop, Filmes, Nostalgia, Polícia, Sylvester Stallone
- Postado por: Facínora