Análise do M.D. Geist II: Death Force (1996)

A ultraviolência dos animes gestada nos anos 80 com a intensidade dos anos 90.

Adicionado a 28 de setembro de 2024 por Facínora.

Neste artigo, trago a minha análise do MD Geist II: Death Force, um anime longa metragem de 1996, dirigido por Hideki Hiroshima e Kôichi Ôhata, com roteiro de Riku Sanjyo e Kôichi Ôhata. A obra conta ainda com a participação dos artistas Jason Beck, John Hollywood e Joan Baker.

É também a continuação da notória OVA de 1986, que carrega adiante a marca registrada da franquia: violência extrema, cenários pós-apocalípticos e um protagonista praticamente indestrutível. Acontece que isso é tudo muito bom, sem contar que é praticamente um retrato da cultura pop de sua época que exerceu influência sobre outras obras. Além disto, esta sequência também traz nuances que podem fazer o espectador refletir sobre questões de liderança e poder em meio ao caos.

O filme se conecta ao original de maneira direta, mas sem muitos detalhes ou uma contextualização robusta, o que não significa que a OVA seja inacessível aos novos espectadores, pois há uma introdução que dá uma boa ideia geral do que está acontecendo. Isso pode ser frustrante para quem busca uma construção mais elaborada do enredo, mas ao mesmo tempo mantém a trama simples e focada na ação.

Assim como no primeiro MD Geist, a ultraviolência continua sendo uma das principais características. Porém, Death Force parece aumentar ainda mais o nível de brutalidade, com cenas que beiram o insano, provavelmente com a intenção de chocar o espectador. Esse uso da violência extrema pode ser visto como uma representação crua do mundo caótico em que a história se passa, onde a sobrevivência pode atropelar a moralidade muito facilmente, e também por causa do protagonista, Geist, é claro.

Aliás, Geist passa de um simples anti-herói da primeira OVA para algo mais primitivo e destrutivo em Death Force. Ele é ainda menos um personagem humano e mais espécie de força da natureza implacável cuja única função é destruir. Isso deixa o peso da construção narrativa nos ombros do elenco secundário, o que pode frustrar aqueles que buscam um desenvolvimento de personagem mais profundo. Geist não é alguém com quem o espectador simpatize ou se identifique, mas o caos personificado. Bom, talvez seria melhor ter deixado ele destruindo as máquinas assassinas autorreplicantes sossegado, né? Mas vai tentar explicar isso…

A qualidade técnica da animação parece ter melhorado levemente em comparação com o primeiro OVA, embora não haja um salto significativo, pelo menos não que eu tenha notado. Para o espectador comum, a estética e o estilo permanecem bastante semelhantes. As cenas de ação ainda são bem coreografadas, com o charme da velha guarda das produções dos anos 90. Visualmente, Death Force mantém a consistência, mas não apresenta inovações técnicas demasiadamente espetaculares.

Uma “critica social” que notei na OVA é, talvez, referente aos líderes carismáticos e ao messianismo. M.D. Krauser, o líder dos sobreviventes retratado em Death Force, não é o típico vilão maquiavélico como Sheev Palpatine ou alguma outra personificação do mal na cultura. Ele oferece uma proteção real aos sobreviventes, o que o torna, em algum nível, genuinamente benéfico. No entanto, ao atingir o status de herói quase divinizado, a pureza de suas intenções começa a ser questionada. Ele não é idealizado de forma absoluta, e a obra sugere que mesmo aqueles que começam como protetores podem ser corrompidos por vaidades e mundanidades. Se eu tiver certo, é uma crítica sutil, mas eficaz, sobre como não se pode substituir o ceticismo e a cautela diante do poder por adoração pública por alguém que provavelmente não passa de um palhaço cheio de vícios e corrupções. Claro, provavelmente Krauser sabe ler, o que não é o caso da esmagadora maioria dos burocratas estatais da vida real, mas vale a crítica.

Um dos principais problemas que encontrei em MD Geist II está na estrutura da narrativa. Muitas vezes, as transições de uma cena para outra parecem abruptas, quase sem explicação, coisa de filme experimental ou aquelas coisas de gente pretensiosa pela saco metida a ter interpretações abstratas sobre as coisas. Por outro lado, e pensando bem, isto pode ser visto como uma forma de refletir o ambiente brutal e caótico em que a história se passa. De qualquer forma, essa estrutura fragmentada enfraquece o engajamento emocional com os personagens. De fato, não lembro de nenhum personagem que tenha me gerado simpatia. Tipo, é interessante o Geist como conceito, mas isso poderia ter sido mais trabalhado, a meu ver.

Agora, assistir ao OVA com a dublagem brasileira da Gota Mágica foi, sem dúvida, um dos pontos altos da experiência. A dublagem, de altíssima qualidade, consegue capturar a intensidade e o tom da história de forma eficaz, tornando a obra ainda mais nostálgica, além de acessível e impactante para o público brasileiro. Sem contar a nostalgia, com grandes vozes familiares pra muitos de nós. Poxa, a dublagem brasileira era realmente extraordinária naquela época.

Considerações finais

O MD Geist II: Death Force pode não ser uma obra-prima, mas é uma peça importante para entender o contexto dos OVAs ultraviolentos da época e as influências que exerceram sobre outras produções. O anime também oferece uma visão brutal de um futuro distópico e aborda, de maneira sutil, questões sobre liderança e o culto à personalidade. Apesar de suas falhas narrativas e da falta de um personagem central com quem o espectador possa se conectar, é uma obra que merece ser vista, especialmente por aqueles interessados no desenvolvimento de animes distópicos e de ação ultraviolenta dos anos 80/90.

Trailer

Sinopse

Após os eventos catastróficos que dizimaram a maior parte da população de Jerra, Geist prossegue em sua luta solitária, destruindo incansavelmente as máquinas da temida Death Force. Enquanto isso, os poucos sobreviventes humanos se refugiam em uma fortaleza comandada por Krauser, um líder enigmático que possui a tecnologia capaz de esconder sua base das ameaças mecânicas. Mas, em um mundo onde sobrevivência significa mais do que apenas escapar da morte, os destinos de Geist e Krauser se cruzam, desencadeando uma nova e devastadora batalha pelo futuro de Jerra.

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